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10 LIÇÕES DA COPA DO MUNDO 2018 PARA OS ADMINISTRADORES

Reprodução/ Instagram @equipedefrance

29/07/2018

Por Marco Morsch

Veja neste artigo o que podemos aprender sobre gestão, estratégia e trabalho em equipe com o que aconteceu nos jogos da Copa do Mundo na Rússia
  
O esporte sempre serve como ótima metáfora ou história para ilustrar conceitos de gestão e liderança. Tenho utilizado com frequência muitos exemplos de futebol, atletismo, natação, vôlei e tantas outras modalidades esportivas em minhas aulas e treinamentos para clarificar de maneira didática e simples o que significa um determinado conceito, estratégia ou ferramenta de administração.

A Copa do Mundo 2018, que terminou há alguns dias na Rússia e atraiu a atenção de milhões de pessoas em todo o planeta, foi um prato cheio de histórias e situações exemplares de conceitos, técnicas e práticas da administração, entremeadas entre passes, chutes e gols.

Conversando com meu amigo Marco Antonio Bezerra Campos, advogado e apaixonado por futebol, elencamos algumas lições que a Copa do Mundo deixou como legado aos gestores para administrarem mais eficazmente seus times e organizações. Essas 10 lições são apresentadas a seguir:

1. Estratégias sob medida e táticas ágeis vencem jogos

A agilidade foi uma característica das seleções que se destacaram na Copa da Rússia. França, Croácia e Bélgica jogaram por meio de contra-ataques bem articulados e com uma rapidez e precisão impressionante. Estudaram profundamente cada adversário e prepararam uma estratégia “sob medida” para cada jogo. Souberam aproveitar as oportunidades e incapacidade de reação dos adversários para se sobrepujar. Muitos gols e vitórias resultara da agilidade tática destas equipes.

Hoje, empresas que não tem gestão ágil, em adotar estratégias e táticas dinâmicas para contornar as adversidades e se antecipar às mudanças e à concorrência, perdem espaço no mercado e ficam em grande desvantagem. Empresas ágeis, ao contrário, estudam e dominam seus mercados. Tem sido assim com empresas disruptivas, como por exemplo Uber, Airbnb e Nubank.

2. Posse de bola não significa vantagem competitiva

Muitas seleções que tiveram maior tempo de posse da bola nos jogos perderam a partida. A falta de finalização, e sobretudo a incapacidade de furar o bloqueio da defesa adversária, demonstraram ineficácia e inefetividade, resultantes certamente da falta de criatividade, improvisação e inovação.

Em alguns casos, como no da seleção brasileira no jogo de sua desclassificação, essa incapacidade poderia ser solucionada por um planejamento diferente de jogo e, também, uma modificação mais rápida e ágil do esquema tático de jogo, ainda no primeiro tempo.

A Kodak foi líder suprema das máquinas fotográficas por várias décadas, utilizando o filme de película, mas não conseguiu resistir à avassaladora inovação disruptiva das câmeras digitais.

3. Estatísticas em tempo real auxiliam a estratégia

Com o avanço da tecnologia, os dados e informações dos jogos são divulgados em tempo real: tempo de posse de bola, número de faltas, chutes a gol, velocidade da bola, etc. Uma das mais importantes é a pontaria destes chutes.

Algumas seleções ganharam o jogo com apenas poucos chutes a gol, mas certeiros. Outras, tiveram dezenas de chutes, mas para fora na sua grande maioria. Ora, isso se chama ineficácia em administração. Chutar a gol é ser eficiente, mas fazer o gol é ser eficaz!

Se o time não está sendo eficaz, o técnico pode fazer substituições ou mudar o esquema tático.

Empresas que visitam milhares de clientes e vendem apenas algumas unidades são ineficazes. Estão perdendo dinheiro. A administração eficaz é aquela que reverte seus esforços em resultados efetivos. O crescimento exponencial da Netflix é um exemplo de efetividade com base em inteligência de mercado e análise de dados para converter vendas..

4. Tecnologia de vídeo ajuda a corrigir injustiças

A grande novidade da Copa de 2018 foi o árbitro de vídeo. Mesmo com algumas polêmicas, o avanço é indiscutível. Pode-se evitar diversas injustiças e corrigir erros que teriam prejudicados o destino de algumas seleções. É algo que veio para ficar.

No mundo corporativo, é impensável uma empresa operar sem inteligência e tecnologia da informação, big data, computação em nuvem, análise de dados, mobile marketing e tantas outras ferramentas digitais. A TI se tornou um imperativo para a vantagem competitiva. A Amazon é um exemplo claro disso.

5. Ética e fair-play desempatam na hora do vamos ver

Um dos aspectos bonitos da Copa do Mundo é a promoção do fair-play. A FIFA sempre dá destaque para a ética e o jogo limpo no futebol, educando os esportistas para o espirito esportivo como união e congraçamento como é a festa da Copa. Neste evento aconteceu algo inédito: o Japão se classificou para as oitavas de final por ter menos cartões amarelos do que o Senegal, já que estavam empatados no saldo de gols, segundo critério para desempate.

Atualmente, os consumidores preferem escolher produtos de marcas que sejam éticas quando qualidade e preço são iguais. O futebol mostrou que ética dá resultados.

6. Campeões do passado já não metem medo

As seleções com mais estrelas na camisa não assustaram. Brasil, Alemanha, Argentina, Espanha, Inglaterra foram sendo desclassificadas ou caindo para outsiders como Bélgica e Croácia, por exemplo. Em alguns jogos, os tradicionais campeões foram subjugados pelos seus adversários que assumiram o domínio do jogo logo depois dos primeiros minutos quando perceberam que eles não eram grandes o suficiente.

No ambiente competitivo globalizado de hoje, tamanho não é documento. Pequenas startups estão enfrentando empresas líderes de igual para igual e tomando a dianteira sem medo do gigantismo tradicional das empresas campeãs. A XP Investimentos, fintech com crescimento vertiginoso nos últimos anos, foi comprada recentemente pelo BTG Pactual por R$ 6, 3 bilhões.

7. Ícones e craques desalinhados de suas equipes não ganham jogo, mas o trabalho em equipe sim

Cristiano Ronaldo, Messe e Neymar não salvaram seus times como os craques do passado faziam. O perfil dos times vencedores foi o de equipes com grandes craques, mas que não eram independentes do trabalho coletivo, como a França, a Croácia e a Bélgica, por exemplo.

Estas seleções tinham uma equipe que trabalhava com um grande sentido de coletividade e claro senso de competências individuais diferenciadas aparecendo em momentos chave, a serviço do todo. Os craques, como Mbappé, da França, Modric, da Croácia e Eden Hazard, estavam perfeitamente integrados às suas equipes.

Pesquisas em empresas bem-sucedidas revelam que o sucesso se baseia na confiança mútua dos membros de suas equipes, conhecimento das competências diferenciadas de cada um, muita prática, aceitação das limitações do outro e clareza do propósito comum. E, claro, uma liderança inspiradora.

8. O sucesso está no detalhe

Todos sabem que o futebol é muito influenciado pelo imponderável, ou pelo acaso, como preferem alguns. A administração também. Muitos tiveram esta sensação no jogo em que o Brasil foi desclassificado.

Na Copa da Rússia o detalhe foi determinante em vários jogos. Nem sempre a seleção que jogou melhor venceu. Eventualmente o detalhe ou o imponderável decidiu o jogo. Isto é ao mesmo tempo o lado mágico e injusto de uma competição futebolística. E na vida dos negócios não é diferente! Acasos e imponderáveis acontecem o tempo todo, ainda mais no cenário de volatilidade, incerteza, complexidade e ambiguidade (VUCA) de hoje em dia.

Planejar, antecipar cenários e prever alternativas pode minimizar a vulnerabilidade frente as incertezas e adotar postura ágil e flexível pode remediar o imponderável.

Steve Jobs dizia “Tudo é importante – que o sucesso está nos detalhes”. Os produtos da Apple expressam bem essa noção. Ao incorporar a tela touch, o Iphone fez toda a diferença.

9. Resiliência e maturidade são a base do sucesso

Uma equipe tem que ser resiliente, sobretudo para ser capaz de virar o jogo se levar um gol. Uma seleção que não tem maturidade emocional pode se descontrolar, perder o foco, os pés no chão e se desestruturar totalmente. Sem a capacidade de manter a tranquilidade e o equilíbrio emocional e dar a volta por cima, pode tomar mais gols e degringolar o seu desempenho. No jogo que desclassificou o Brasil isso pode ter acontecido.

Empresas que não são resilientes desaparecem do mercado diante da incapacidade de se adaptar as constantes mudanças nas regras do jogo. Casos clássicos como Kodak, Blockbuster e Sharp ilustram esta realidade.

10. A prática e o treinamento é tudo

Outro aspecto determinante para o sucesso: todas as equipes que se destacaram na Copa da Rússia tiveram muito tempo de treino, prática e convivência ao longo dos últimos anos, criando uma experiência e continuidade imprescindível para sedimentação do espírito de equipe.

Todos conhecem o ditado, “a prática leva a excelência”. Seleções como a Bélgica e a Inglaterra, por exemplo, são resultado de um trabalho planejado e executado cuidadosamente que vem sendo feito a longo prazo, com uma mesma equipe. Isso dá estabilidade, confiança mútua, desenvolvimento de competências e habilidades, e sedimenta o hábito da prática. Tite já falou em uma entrevista, quando foi campeão nacional e da Copa libertadores; “O sucesso de um time campeão é treinamento, treinamento e treinamento”.

Se você olhar as empresas extraordinárias e vencedoras nos mercados atuais, elas investem pesado em treinamento e desenvolvimento de competências de seus líderes e colaboradores e incentivam hábitos que consolidem aquelas práticas e técnicas que estão dando certo. 

E você, compartilha dessa tese: empresas campeãs jogam como as melhores seleções de futebol do mundo?

Marco Morsch

Marco Aurélio Morsch é professor, mestre em administração de empresas, consultor e palestrante. Formado em Direito pela UFRGS e Master em Tecnologia Educacional pela FAAP, é coautor dos livros “Comportamento do Consumidor: Conceitos e Casos” (Pearson, 2005) e “Marketing Estratégico” (DVS Editora, 2004). Atualmente é professor nos Cursos de Administração da Universidade Presbiteriana Mackenzie. Atuou como executivo e gestor em diversas empresas tais como Caixa, NET Serviços e Campos Advocacia Empresarial. Foi professor da FAAP por 19 anos, onde coordenou o Curso de Pós Graduação em Marketing. Com mais de 20 anos de experiência em treinamento e desenvolvimento de executivos, em 2006 fundou a Morsch Consultoria, empresa de treinamento, palestras e educação executiva.


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