.

.

Porto Alegre segundo Felipão

© AFP
24/08/2013

Para constatar que, ao longo das últimas décadas, Luiz Felipe Scolari passou bastante tempo distante de seu Rio Grande do Sul, não é preciso mais do que uma rápida olhada no currículo: das várias passagens pelo Oriente Médio aos mais de cinco anos comandando a seleção portuguesa, passando por anos de sucesso em outros estados brasileiros – como nos períodos com Palmeiras e Cruzeiro –, o que não falta para o atual treinador da Seleção Brasileira são viagens, para todo lado.

E, no entanto, bastou anunciar que a conversa com o FIFA.com era para falar sobre Porto Alegre e, na verdade, todo o estado do Rio Grande do Sul e até a voz do técnico se tornou mais suave. É uma mostra do carinho pela terra natal que tanto caracteriza os gaúchos e que, segundo Felipão, dá origem a uma natureza simpática e acolhedora – mais uma atração para aqueles que visitarem o estado durante a Copa do Mundo da FIFA Brasil 2014.

Para a série em que grandes nomes do futebol brasileiro falam sobre as sedes do Mundial e suas lembranças da competição, batemos esse papo com Scolari:

FIFA.com: Felipão, quando você pensa em Copa do Mundo, qual é a primeira memória, de infância, que vem à mente?
Luiz Felipe Scolari: A primeira é de quando eu tinha dez anos, em 1958. Até hoje lembro de ouvir a Copa pelas rádios do Rio Grande do Sul: a narração do jogo que a gente ouvia lá de longe.... naqueles rádios de válvula. Eu já gostava de futebol, mas a gente não tinha imagem, então ficava só imaginando como eram Vavá, Zito, Pelé, Garrincha... E ainda ficava imaginando como eram os lances. Então, o narrador dizia: “Chutou e a bola passa rente à trave:. Uns lances que hoje a gente vê pela televisão e a bola passa a um metro e meio. (risos) Naquele tempo, era mais no imaginário. 

E sobre a derrota na Copa de 1950: quando criança escutou algum comentário vindo de seus pais?
Não, não.. Porque eu nasci em 1948 e, além disso, meu pai... Ele gostava de jogar futebol e até jogou em clubes amadores – e dizem, aliás, que era muito bom jogador. Mas ele não incentivava minha participação no futebol; ele se mantinha um pouco longe. Porque naquela época o futebol ainda era visto de um jeito diferente. Então, eu só fui jogar bola na rua depois dos oito, dez anos. E isso que eu morava num local em Passo Fundo em que na frente da minha casa tinha um campo. Eu vivia ali jogando bola.

Como gaúcho, o que você recomendaria a quem vem acompanhar alguma partida da Copa em Porto Alegre – tanto na cidade em si quanto ao redor dela?
Bom, no entorno da cidade, quem tiver a oportunidade de conhecer a Serra Gaúcha tem que fazer isso. É uma mini-Europa. E isso está em tudo: nos costumes, nas próprias cidades, na população – que, no geral, é de oriundos da Europa. Aquela zona de Gramado, Canela, Caxias, Bento Gonçalves é linda demais e, à sua maneira, se assemelha muito à Europa. E, quanto a Porto Alegre em si, a cidade oferece demais. Eu fico imaginando o que vai ser, para os turistas, passear ali pela zona do Cais do Porto, que deve estar linda, ou na parte antiga do centro da cidade. É uma cidade muito acolhedora. E os costumes são algo muito curioso no Rio Grande do Sul: o modo como se recebem os visitantes. Nós, gaúchos, somos muito tradicionais, mas somos carinhosos. Quem tiver a oportunidade de passear pelo Rio Grande do Sul vai gostar demais.

É curioso você falar sobre essa mescla de culturas: uma campanha promocional do estado do Rio Grande do Sul para a Copa se intitula justamente “Aqui todo mundo se sente em casa”, por causa dessa diversidade...
Mas é verdade. Nós temos uma população de descendentes principalmente de italianos e alemães que deixou muitas marcas: o alemão foi pra zona dos rios, o italiano para as montanhas; os alemães com as flores enfeitando as cidades e os italianos com as hortas, no interior. Você encontra cidades onde quase todos falam esses idiomas. É tudo muito típico. 

E é notório como, no geral, o povo do Rio Grande do Sul tende a ser muito orgulhoso das tradições locais. É assim com você também?
É sim, porque os costumes são muito marcados. Eu, por exemplo, nunca fui de puxar pelo bairrismo, de dizer que é o melhor lugar, de ensinar isso dentro de casa. Mas eu vejo com orgulho e satisfação como meus dois filhos, quando falam do Rio Grande do Sul, sempre dizem: “Ah, mas lá é demais”. Nós, gaúchos, temos uma coisa um pouco nossa: quase todo gaúcho sabe o hino do estado e o canta. Isso é diferente dos outros lugares. E têm mesmo muitos costumes regionais que nós valorizamos: aquele ambiente de camaradagem, de se juntar a família para se tomar chimarrão... Isso é muito gaúcho.

Você retornou ao Brasil para treinar o Palmeiras em 2010 após sete anos no exterior, e num período em que o país mudou muito. Você de fato observou essas mudanças?
Eu vejo mudança, sim, na situação econômica, que acho que melhorou, sobretudo para uma certa parte da população. Isso se sente e se nota. Eu senti isso no aspecto da cidadania, na ascensão social de algumas classes. É, a meu ver, um trabalho bem feito desses últimos 15 ou 20 anos.

E, para você, a Copa do Mundo tem potencial para ajudar esse cenário?
Acho que sim. A Copa pode servir para que se façam melhorias no país todo: melhorias que deviam ter sido feitas há muitos anos e que só agora acontecerão, se não completamente, ao menos em parte. A ideia que tenho e que gostaria de ver em prática é desse tipo de melhoria: para trazer ganhos futuros à população; ganhos que a própria população às vezes nem imagina. 

Fonte: FIFA

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Related Posts Plugin for WordPress, Blogger...