Para Hori, não há como esconder vidraças da mídia internacional (crédito: Fabiano Freitas/Portal 2014) |
Jorge Hori*
A preparação de Porto Alegre para a Copa das Confederações, em 2013, e para a Copa do Mundo, em 2014, vai bem com relação aos estádios. Além do Beira-Rio, com obras paradas no momento por conta da transição de modelo de negócio, o Grêmio está tocando a sua obra em Humaitá, um bairro próximo do Aeroporto Salgado Filho.
Os dois projetos não se limitam aos estádios, mas contemplam uma intervenção mais ampla de (re)urbanização.
O Beira-Rio (no que seria mais propriamente um beira-lago) se situa em um aterro que não foi de todo urbanizado. As Copas seriam uma grande oportunidade para isto, seguindo, efetivamente, o exemplo de Barcelona.
No entanto, o projeto dificilmente será concretizado. No “Road-Show” realizado pelo Sinaenco e o Portal 2014 na capital gaúcha, semana passada, não foi apresentada qualquer modelagem econômica-institucional para viabilizar tal urbanização. Apenas desejos e desenhos de arquitetos.
Nova centralidade
Já o projeto da OAS para o estádio do Grêmio tem uma proposta mais concreta, ainda que acanhada. Na área do estádio, configurado como uma arena multiuso, está prevista a construção de um centro de convenções, um shopping center e torres para abrigar hotéis, residências e escritórios.
Diversamente do projeto da Cidade da Copa, na Grande Recife, empreendido pela Odebrecht, que criará um novo bairro, o projeto OAS/Grêmio cria apenas um polo de vitalização urbana num bairro onde era prevista a instalação de um distrito industrial, mas que foi em grande parte tomado por invasões, formando favelas.
Foram instalados diversos conjuntos habitacionais populares, de padrão bem diverso (e inferior) das torres que a OAS já lançou e está construindo.
Mas enquanto a Cidade da Copa fica distante de Recife, ainda requerendo infraestrutura de acesso, o bairro Humaitá é próximo de Porto Alegre, fica ao lado do aeroporto. No entanto, o local ainda não tem acesso pelas rodovias de saída da cidade, mas ficará próximo do complexo, em construção, de pontes e viadutos que farão a ligação com a rodovia BR-116.
O sucesso do conjunto poderá valorizar o entorno, substituindo as unidades industriais por torres residenciais e comerciais, num processo que pode gerar um "boom imobiliário”, a depender da economia gaúcha.
A dinâmica é conhecida. A partir de um empreendimento alavancador, outros incorporadores lançam projetos na região, inicialmente convivendo com a ocupação anterior, mas, em seguida, promovendo a sua expulsão em função da valorização imobiliária. A resistência dos ocupantes atuais pode vir a abortar o desenvolvimento.
Há também uma contradição específica do projeto, que poderá prejudicar o funcionamento do estádio como espaço multiuso. A contiguidade da arena com as torres poderá criar restrições promovidas pelos moradores contra o “barulho”, exigindo que os shows tenham hora certa para terminar.
O barulho dos shows e mesmo dos jogos poderá conter a valorização do entorno imediatamente próximo, mas valorizará o entorno não tão próximo da arena. Essa dinâmica urbana e imobiliária tem vários exemplos na cidade São Paulo, que ocorreram em períodos de 20 a 50 anos. O do bairro do Pacaembu tem 70 anos.
Como geralmente acontece, os empreendedores e autoridades procuram destacar as vitrines, com belos vídeos e apresentações em powerpoint. Mas há inúmeras vidraças.
Copa das Confederações e Copa do Mundo são grandes eventos midiáticos. As Confederações, que testam os estádios e a infraestrutura, trazem para o Brasil uma mídia internacional mais focada nas vidraças que nas vitrines. Certos pontos poderão ser facilmente superados, como o lixo e o abandono de áreas do aterro no entorno do Beira-Rio. Outros serão de mais difícil remoção ou superação, como as favelas instaladas em Humaitá. As obras de transporte não estarão prontas em 2013, e sua execução prejudicará a mobilidade urbana durante o evento.
A cobertura da Copa das Confederações pode prejudicar a Copa de 2014, como ocorreu na África do Sul. Muitas reservas foram canceladas por conta da divulgação intensa das vidraças.
Porto Alegre, como as demais cidades, não pode ficar na defensiva. Se as vidraças persistirem até 2013, não há como escondê-las da mídia internacional.
Turismo
Outra questão fundamental é a seguinte: qual é o turismo de Porto Alegre? O Rio Grande do Sul só tem dois destinos marcantes, a Serra Gaúcha e a própria capital.
A serra está nos principais roteiros turísticos nacionais e em alguns internacionais; Porto Alegre não. A primeira é uma grande atração para os que procuram frio e belas paisagens; a segunda não oferece qualquer atrativo natural ou cultural significativo.
Porto Alegre terá condições de sediar até as semifinais da Copa. Com isso, ganhará grande visibilidade internacional. Mas quais serão seus atrativos para o turista estrangeiro?
Paris não oferece significativos atrativos naturais, mas tem uma aura que atrai os turistas. Barcelona, igualmente sem atrativos naturais, conseguiu, a partir da Olimpíada de 92, tornar-se um grande polo turístico, desenvolvendo uma aura alavancada pelas obras de Gaudi.
O turismo de Porto Alegre é, predominantemente, o de negócios. Desta forma, o desenvolvimento do setor depende do crescimento econômico.
Petróleo e negócios
Além da expansão industrial orgânica, o Rio Grande do Sul tem uma grande oportunidade com o pré-sal, o que ainda é pouco percebido pelas autoridades de turismo do Estado. O Rio Grande do Sul é o terceiro principal polo da construção naval para a exploração submarina de petróleo e gás, atrás do Rio de Janeiro e de Pernambuco.
Conta com um estaleiro para a adaptação de cascos de navios e dois sítios para a montagem dos módulos que vão acima dos navios ou plataformas.
Os setores de turismo e de desenvolvimento econômico do estado devem promover campanhas para a atração de investimentos. A vitrine que o Rio Grande do Sul deve mostrar com a Copa é o seu potencial econômico, mais que o potencial do turismo de lazer. Com isso, pode ampliar o turismo de negócios.
O marketing turístico está acostumado com o turismo de lazer e ainda não sabe desenvolver o marketing para o turismo de negócios. Quando muito, enfoca os eventos, que representam uma parcela menor do turismo de negócios.
Ademais, os eventos não se caracterizam como demanda primária. Devem estar associados a uma atração natural, como a realização de workshops e seminários na Serra Gaúcha, associando trabalho e lazer. Ou ter base num setor econômico importante, regional, para atrair fornecedores ou compradores. A infraestrutura de centros de convenção e exposição é uma condição necessária, porém insuficiente.
*Jorge Hori é consultor e titular do blog Inteligência Estratégica
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