08/03/2018
Por Maureen Flores - O Globo
Desde do Século XVII, quando o Rei Charles II da Inglaterra deu chancela real ao esporte, o futebol caminhou a passos largos em direção a globalização. Dois desses passos são fundamentais para discutir as inovações na modalidade: a criação da IFAB e a da FIFA, em 1883 e 1904, respectivamente. Mais de 100 anos depois, todas as inovações incorporadas ao futebol ainda carecem da aprovação da dobradinha FIFA/IFAB. Nessa última tem assento: o Reino Unido (Irlanda, Escócia, País de Gales, Inglaterra) e a própria FIFA. Exatamente assim, foi a reunião realizada em Zurich, sábado passado, que aprovou por unanimidade o uso do VAR; porém, deixando seu uso na Copa pendente para outra reunião
Apesar da tradição, nem a realeza, nem ninguém, poderia imaginar que a tecnologia transformaria o mundo - rompendo antigas barreiras - e que uma Copa da Mundo geraria receitas como os 5.72 bilhões de dólares - contabilizando o quatriênio 2011/14 da FIFA. Dado o vulto das somas, a Comunidade Europeia passou a ter um olhar mais apurado sobre as questões ligadas a corrupção, jogos arranjados, doping e outras mazelas. Nesse contexto, a inovação adquire, o papel do agente de ruptura com o passado estabelecido; pois, através de soluções tecnológicas, instituições e organizações esportivas promovem a transparência e garantem a conformidade com as regras. Esse clamor por melhores práticas, torna-se um movimento denominado "Integridade do esporte"; um dos principais pilares da União Europeia no Plano de Trabalho 2017-2020 para Esporte.
Chegamos a 2018, nova Copa do Mundo, e assim como no Brasil 2014, quando o gol line technology (GLT) foi lançado mundialmente, novas soluções terão a Rússia como palco. Como o uso da tecnologia é um movimento que avança apesar de retardos causados por algumas resistências locais, a Copa da Rússia já contará com o apoio de um nova área dentro da FIFA: o Departamento de Tecnologia e Inovação no Futebol, sob a tutela da Divisão de Desenvolvimento Técnico. Nessa nova área atuam 10 profissionais voltados a pesquisar, testar, implementar e facilitar o acesso dos países membros as novas soluções. Isso é novo e é um caminho sem volta.
Fui conversar com a FIFA para conhecer a visão institucional sobre as mudanças que a tecnologia impõe ao futebol. Fiz 5 perguntas ao porta voz da entidade, as quais transcrevo abaixo:
1) Qual o impacto da tecnologia no futebol desde a Copa de 2002?
Certamente, para organizar, preparar e entregar uma Copa do Mundo muita tecnologia é utilizada. A tecnologia para o futebol é uma área que está em desenvolvimento contínuo há dez, quinze anos. Em particular, o uso da tecnologia torna o jogo mais justo e dessa forma protege a modalidade. O sucesso da implantação do GLT na Copa do Brasil abriu as portas para novas demandas. O VAR, por exemplo, tem um objetivo simples: benefício máximo com interferência mínima, o VAR não afeta o jogo.
2) Qual a velocidade das mudanças entre uma Copa e outra?
Isso depende das demandas geradas pelo mundo do futebol. Uma solicitação específica, como foi o GLT, é sempre um ponto de partida para o processo de inovação dentro da FIFA. É importante que o público entenda que a inovação é um processo a ser percorrido entre a ideia inicial até a implantação do produto. No caso da FIFA, a implantação final, em Copa do Mundo, requer tempo e muitos e muitos testes.
3) Qual a visão da FIFA e os seus desafios para implantação de novas tecnologias?
A visão da FIFA é utilizar a tecnologia para aprimorar a experiência do futebol dentro e fora de campo. O maior desafio é a gestão da inovação. Como esses são processos novos no mundo do futebol, nossa curva de conhecimento para lidar com testes e fases experimentais precisa ser aprimorada.
4) Quais as principais novidades trazidas pela tecnologia para a Copa 2018?
A grande modificação será que árbitros, técnicos e médicos terão acesso a mais informação para suas tomadas de decisão, sejam essas tomadas durante ou após as partidas.
5) O que poderemos esperar para a Copa da Rússia?
Todos os estádios estarão equipados com GLT, como foi no Brasil 2014. A equipe médica terá um analista de vídeo para dar acesso aos replays e facilitar a comunicação direta, via rádio, com os médicos que ficam no banco. O uso do VAR foi aprovado pela IFAB/FIFA mas a aprovação final para a Copa será decidida pela reunião do Conselho, dia 16 de março próximo, na Colômbia.
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