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CATAR 2022: ENTENDA COMO FUNCIONA O CAPACETE REFRIGERADO DOS OPERÁRIOS

Operários encaram o calor na obra do estádio Al Bayt, um dos que estão sendo 
construídos para a Copa de 2022 no Catar (Foto: Getty Images)

18/04/2017

Universidade cria acessório para baixar temperatura de trabalhadores das obras da Copa. Sistema de refrigeração nos assentos e lateral do campo já funciona no Al Sadd

Por Felipe Rocha
Especial para o GloboEsporte.com em Doha, Catar

Se dependesse do Catar, a Copa do Mundo de 2022 seria realizada no meio do ano, como reza a tradição. Mas as temperaturas de até 50ºC no país, nessa época, assustaram o resto do planeta. Em 2015, então, a Fifa esfriou os ânimos e definiu que o Mundial será entre novembro e dezembro, inverno local. Mesmo assim, há a promessa de ar-condicionado em todos os estádios seguindo um sistema já em funcionamento no país e, com a organização do Mundial envolvida em várias polêmicas sobre as condições de trabalho dos imigrantes, uma novidade deverá aliviar um pouco o sofrimento dos operários nas obras do Mundial: um capacete com refrigeração passará a ser usado pelos trabalhadores.

A partir de maio, quando as temperaturas no país do Oriente Médio começam a ultrapassar os 30ºC com frequência, os operários irão utilizar um capacete capaz de diminuir a temperatura corporal em até 10 graus centígrados. A tecnologia foi desenvolvida por pesquisadores da Qatar University, que receberam a reportagem do GloboEsporte.com em Doha para explicar como funciona a refrigeração.

O capacete é ligado por meio da energia solar. Um painel no topo do artefato recebe a energia do sol e permite o funcionamento de um ventilador, localizado na parte de trás do produto. Dentro do capacete, há uma pequena bolsa, feita de um material de mudança de fase (PCM, sigla em inglês), preenchida com água refrigerada. A partir de 28ºC, a água entra em processo de fusão (vira líquido), e solta um ar que resfria a face do operário. A bolsa de água precisa ser trocada a cada quatro horas de trabalho. Para um eventual caso raro de falta de sol, a bateria do capacete também pode ser recarregada como a de um celular, por exemplo. 

Capacete com sistema de refrigeração será adotado por operários da C
opa de 2022 a partir de maio no Catar (Foto: Reuters)

- A temperatura ideal do corpo é de aproximadamente 37 graus centígrados. (O capacete) reduz os estresses térmicos por causa do resfriamento. O calor extra armazenado no corpo do trabalhador é transferido para fora, por convecção, através do ar frio do capacete. Isso reduz a insolação e deixa a temperatura facial do operário sempre na casa dos 31 graus - explica Dr. Saud Abdul-Ghani, professor do Departamento de Engenharia da Qatar University.

O professor Saud é um dos pesquisadores que criaram o capacete refrigerado. Foram dois anos de pesquisas até chegar ao modelo final. A tecnologia foi patenteada mundialmente e é vista como um dos legados da Copa que só terá início daqui a cinco anos.

- Sediar uma Copa não se restringe ao esporte. É um evento da sociedade, da comunidade, das universidades. (a tecnologia do capacete) não é somente para o Catar. É para todos os países quentes, como Cingapura, EUA ou Brasil. É para todas as pessoas que trabalham em lugares quentes - completa o professor.



Quadro na Qatar University explica o funcionamento do capacete, que 
conta com energia solar (Foto: Felipe Rocha)

Já com sistema de refrigeração, estádio do Al Sadd não estará na Copa

Todos assentos no estádio do Al Sadd contam com saídas do sistema de ar-condicionado 
por baixo dos torcedores (Foto: Felipe Rocha)

A mudança da Copa do Mundo para o inverno não alterou o plano dos cataris em colocar ar-condicionado em todos os estádios que serão utilizados no torneio. Afinal, a Copa acaba, mas a vida segue também no país-sede. E já que os jogos do campeonato local não se restringem a novembro e dezembro, o ar-condicionado está longe de ser um artigo de luxo nas arenas do Catar.

O Jassim Bim Hamad, estádio do Al Sadd, equipe que atualmente conta com o espanhol Xavi como estrela, é um modelo no assunto. Apesar disso, não será utilizado em 2022 nem como local de treinamento. A arena, localizada na capital Doha, fornece saídas de ar-condicionado instaladas embaixo de cada uma das cerca de 20 mil cadeiras das arquibancadas. Para o gramado, grandes tubulações instaladas atrás dos gols garantem a temperatura ideal para os atletas.

- Na final da Emir Cup da última temporada, lá fora estava 41ºC e aqui dentro a temperatura era de 21ºC - conta Ahmed Al Ansari, assessor do clube mais vitorioso do Catar.


Xavi é a estrela do Al Sadd, que apesar de já contar com tecnologia não terá o 
estádio usado na Copa de 2022 (Foto: Divulgação)

O resultado é ainda mais impressionante se considerarmos que o estádio não é totalmente coberto. Não há cobertura no perímetro do campo. Aliás, o Comitê Organizador de 2022 prometia áreas com ar-condicionado ao ar livre, nas ruas do Catar, caso a Copa fosse no verão (possibilidade considerada quando a Fifa surpreendeu o mundo e deu ao país asiático o direito de sediar a competição).

O sistema de resfriamento utilizado no Jassim Bim Hamad é à base de água. Três contêineres localizados na parte externa da arena armazenam a água, que vai gerar o ar frio capaz de provocar a sensação de que o deserto é apenas uma miragem. São necessárias entre duas e três horas, antes de cada partida, para que o processo de resfriamento do ar seja concluído.

- Na Copa, não será exatamente o mesmo sistema. Será melhor. Porque a nossa arena foi construída sem o sistema de refrigeração. Ele foi instalado depois de pronta. Para a Copa, todos os estádios já estão sendo construídos com isso - afirma Ansari.

Desde 2015, a Fifa vem adiando a decisão sobre o número de estádios que serão utilizados na Copa do Catar. A candidatura inicial dos asiáticos previa a utilização de até 12 arenas, mas a tendência é que o Mundial tenha apenas 8 sedes. 

Segundo assessor do Al Sadd, o sistema de refrigeração baixou temperatura de 
41ºC para 21ºC no estádio (Foto: Felipe Rocha)

Fonte: Globo Esporte


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