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Olímpico faz 61 anos "vazio" e espalha herança a CTs, casa de sócio e parque

Suplementar foi desmontado recentemente para reviver em outros 
lugares (Foto: Igor Grossmann/GloboEsporte.com)

19/09/2015

Estádio resiste a mais um aniversário em meio à novela de implosão e ganha vida com peças retiradas do local abandonado e até com funcionários de longa data

O sábado marca um aniversário que, se dependessem do cumprimentos dos cronogramas iniciais, não ocorreria mais neste 19 de setembro. Pouco há o que comemorar, também. Em meio a destroços e sem uso, vendo as suas estrelas que outrora desfilavam em seu tapete disputarem um animado jogo festivo na Arena, o Estádio Olímpico completa 61 anos. 

À espera de uma implosão que não chega, a antiga casa do Grêmio tratou de deixar suas heranças por Porto Alegre e região metropolitana. Seja em dependências do clube ou até para o deleite de torcedores. 

Além de resistir em pé em um dos bairros mais tradicionais de Porto Alegre, o Monumental também espalha seus tentáculos para se manter vivo mesmo depois que seja derrubado. Não só no pensamento e no sentimento de cada torcedor, que certamente lembrará com muito carinho do local onde esteve em títulos importantes e, por que não, em decepções marcantes. 

JARDINEIROS FIEIS

Não há local com mais peças do Velho Casarão que o CT Luiz Carvalho. É lá que objetos e até mesmo pessoas que viviam a rotina do Estádio Olímpico seguem com a chama da antiga casa gremista. Os campos diariamente utilizados pelo elenco gremista são cuidados por três profissionais que já faziam o trabalho no antigo campo: Laci Silva, com dez anos de clube, e José Leomir e Francelino da Rosa Matos, estes com 20 anos com a obrigação de deixar o gramado um tapete para os jogadores tricolores. 

- Agora, com o time B treinando lá, temos praticamente um campo para cada time. Nosso trabalho exige muita experiência. Está sempre bom o gramado. Dificilmente um gramado permanece sempre bom. É difícil manter. Precisa de dedicação no dia a dia. Fazemos o impossível para manter o padrão. O Olímpico sempre esteve entre os três melhores campos do Brasileirão - comentou Laci, ao GloboEsporte.com. 

O trio é responsável pelo cuidado com os dois campos oficiais e mais uma área atrás de um deles. Também está em suas mãos a jardinagem estética do local. Em épocas de secas, são dois momentos que o sistema de irrigação entra em ação. Em épocas atuais, como a de chuvas, não há agendamentos. E o trabalho aumentou para Zé Leomir e Francelino, já que Laci está de folga. A dupla esteve nesta semana no Rio de Janeiro, onde fez um curso com a engenheira agrônoma Maristela Kuhn. 

José Leomir e Francelino da Rosa Matos, jardineiros do Olímpico ao CT 
(Foto: Eduardo Moura/GloboEsporte.com)

OLÍMPICO PELAS RUAS

No CT Luiz Carvalho, há diversos objetos que foram reaproveitados pelo clube. A começar no vestiário. Armários de seguranças foram migrados para o local, nas proximidades da Arena. Todos os móveis da sala de imprensa foram reaproveitados. 

A bancada em que jogadores, técnicos e dirigentes se acomodam para conceder entrevista é a mesma do Velho Casarão. O mesmo vale para as poltronas que a imprensa e convidados sentam, para mesas na área de convivência e a bancada para veículos impressos. 

Cadeiras do Olímpico na frente da Arena do Grêmio (Foto: Divulgação/PMPA )

Sala de imprensa no CT com aparelhos do Olímpico (Foto: Eduardo Moura/GloboEsporte.com)

Já na estrutura das categorias de base, no CT Hélio Dourado, os pontos de luz dos refletores do Olímpico serviram para a iluminação - uma parte também foi para o local onde os profissionais usam, embora não seja utilizado nos campos. 

Há, também, Olímpico por toda Porto Alegre. No Parque Marinha do Brasil, foi colocado o gramado retirado do campo suplementar do estádio, para ser utilizado em partidas amadoras. Cadeiras da antiga casa gremista foram instaladas em ponto de ônibus em frente à Arena tricolor. Outros assentos foram levados para clubes do interior e para o Theatro São Pedro. 


Grama do Olímpico é retirada em fevereiro 
(Foto: Gilberto Dutra / Divulgação PMPA)

Parque Marinha recebe tapete do Velho Casarão
(Foto: Gilberto Dutra/Divulgação PMPA)

O CAÇADOR DE RELÍQUIAS

Mas há também casos de Olímpico em propriedades privadas. Um deles é de Epifânio Loss, de 60 anos, sócio desde 1982, que esteve no leilão de peças do Monumental promovido pelo clube no ano passado. Arrematou os bancos de reservas como principais objetos, que hoje abrigam um grupo de pelada em um sítio de Loss, na região metropolitana. Os “atletas” disputam torneios amadores e já viajaram a Cancún e Portugal. Nos próximos dias, viajarão ao Panamá justamente para o mesmo objetivo. 

Assim, a peça segue mantendo o sentimento de união de outrora, de muitos elencos campeões que passaram pela estrutura do Olímpico. Entre eles, por exemplo, o time de 95, que faz jogo festivo neste sábado, às 11h, na Arena, em comemoração aos 20 anos do bi da Libertadores.

Bancos de reserva foram retirados do Olímpico (Foto: Epifânio Loss/Arquivo Pessoal)

Mas os bancos de reservas eram a cereja do bolo. A massa foi formada por inúmeras peças que Loss tinha relação em sua rotina de torcedor. A catraca que entrava, por exemplo. A placa do Portão 2, por onde adentrava o Olímpico. As mais de 30 cadeiras, sendo quatro delas as utilizadas quarta e domingo pelo torcedor e sua família. O neto terá um museu particular para relembrar os feitos antigos.

- É para manter vivo. Meu neto, por exemplo, tinha duas semanas, nem bem completas, e já tinha cadeira na Arena. Penso que um dia eles vão dizer que o avô era “metido” - explicou Loss. 

Antes do leilão, o torcedor ilustre quase não dormiu. A noite insone serviu para planejar cada passo, em meio a um nervosismo similar ao anterior aos títulos como da Libertadores e do Brasileirão. Todos conquistados no aconchego do Olímpico. 

ADEUS MELANCÓLICO

Em maio de 2015, o GloboEsporte.com esteve no Monumental para observar um cenário de abandono e vandalismo. O Tricolor não investe mais no local, iniciativa óbvia, já que atua na Arena e é lá que mantém seu dia a dia. Mas o palco de taças e glórias azuis está desativado. Menos de dez seguranças se revezam no terreno do estádio. Isso um ano após o clube ter realizado obras, para tentar sediar treinos da Copa do Mundo. 

Ideia inicial era implodir o Olímpico em março de 2013, mas problemas  com OAS arrastaram a indefinição

O Olímpico já deveria ter sido colocado ao chão pela OAS - houve um início de demolição, que hoje deixa o estádio semidestruído. O acordo inicial era de que a troca de chaves ocorresse em março de 2013, entre a empresa e o clube. A partir daí, a implosão poderia ser marcada para aquele mês, mesmo. Só que a troca de gestão do Tricolor abriu a possibilidade de renegociação da parceria. O que até hoje está em andamento, sem uma definição. 

A expectativa de Romildo Bolzan Júnior era de que a reunião da segunda-feira fosse a "última" pela compra dos direitos de superfície da Arena. Assim, seria possível anunciar o clube como dono da gestão do estádio nesta terça, justamente no aniversário de 112 anos do Tricolor - que era o plano ideal, porém jamais admitido publicamente. O encontro em São Paulo não foi definitivo, mas o presidente mantém o otimismo, embora evite estipular datas.

Inaugurado em setembro de 1954 e completamente concluído com o anel superior em 1980, o Olímpico foi palco e protagonista de glórias diversas dos tricolores. Recebeu cores tradicionais em decisões, como a final da Libertadores de 1983, quando o Grêmio superou o Peñarol por 2 a 1, com gols de Caio e César. Ou as Copas do Brasil de 1989 e 1994, sobre Sport e Ceará, respectivamente. A final do Brasileirão de 1996 é um capítulo à parte, com explosão e êxtase quando os minutos já escorriam às mãos. Ailton deu a vitória sobre a Portuguesa e correu tresloucado para a história.

Estádio Olímpico está dividido entre resistência e ruínas (Foto: Eduardo Moura/Globoesporte.com)


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