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Quatro décadas de Fifa: de secretário a presidente, a conturbada era Blatter

03/06/2015

Braço direito de João Havelange ganha quatro reeleições, mas não suporta crise por acusações de corrupção na entidade e entrega o cargo. Veja a linha do tempo

Quase 17 anos, 203 meses, 886 semanas ou, para ser mais exato, 6.203 dias. Este foi o tempo que durou o período de Joseph Blatter no comando da Fifa até o anúncio de seu adeus nesta terça-feira. Por mais que o suíço siga como presidente até as novas eleições, que ainda serão convocadas, o discurso foi emblemático. Nitidamente abatido, o dirigente máximo do futebol mundial não resistiu à pressão diante da série de acusações de corrupção que envolvem a entidade desde a última quarta-feira e entregou o cargo em um pronunciamento à imprensa, em Zurique. Foi o início do fim de uma relação que começou muito antes de sentar na cadeira da presidência.   

Braço direito de João Havelange, Blatter deixará a Fifa como um dos responsáveis pela globalização do futebol, atingindo principalmente os mercados africano e asiático, mas com uma história cheia de polêmicas. Desde suposta compra de votos para primeira eleição, em 1998, até os casos de corrupção que determinaram a atitude desta terça, o suíço acostumou-se a ver-se envolvido em polêmicas já no primeiro mandato, com a falência da parceira ISL.

Veja abaixo linha do tempo das quatro décadas do dirigente na entidade.

1975 - INÍCIO NO ESPORTE E CHEGADA NA FIFA 

Relações-públicas da junta de turismo de Valais, região onde nasceu na Suíça, Blatter teve seu primeiro envolvimento direto com o esporte ao se tornar secretário-geral da Federação de Hóquei no Gelo do país. Com o sucesso no segmento, participou da organização dos Jogos Olímpicos de Munique-72 e Montreal-76. Neste último, já desempenhava, desde 1975, a função de diretor técnico da Fifa, na gestão João Havelange.   

1981 - SECRETÁRIO-GERAL DA FIFA   

Braço direito de João Havelange, Joseph Blatter foi alçado ao posto de secretário-geral da Fifa em 1981. Nesta função, trabalhou por quase duas décadas, participando diretamente da organização de cinco Copas do Mundo e sendo um dos responsáveis pelo aumento do número de participantes da competição de 24 para 32, que resultou no crescimento do esporte na África e Ásia. O suíço também foi importante no processo de negociação de direitos de transmissão e marketing dos mundiais.


João Havelange e Joseph Blatter: parceria por 23 anos e sucessão natural na presidência da Fifa (Foto: AP)

1998 - O INÍCIO DA ERA BLATTER    

Pela relação criada ao longo de 23 anos de parceria, Blatter surgia como sucessor natural de João Havelange, e assim foi aclamado em congresso da Fifa em 8 de junho de 1998, dois dias antes do início da Copa do Mundo da França. Na disputa, venceu o sueco Lennart Johansson, então presidente da Uefa. Quatro anos depois, no entanto, a eleição seria marcada por acusações de compra de votos. De acordo com a imprensa britânica, o vice-presidente da Confederação Africana e presidente Federação de Futebol da Somália, Farra Ado, teria revelado oferta de US$ 100 mil para escolher Blatter.   

2002 - ACLAMAÇÃO NA ÁSIA   

Mesmo com a acusação da imprensa britânica, Sepp Blatter é reeleito em eleição recheada de polêmica. Com a falência da ISL, empresa de marketing esportivo parceira da Fifa, no ano anterior, acusações de corrupção já pairavam sobre a entidade. Em seu discurso de abertura do congresso, em Seul, pouco antes da Copa da Coreia e do Japão, Blatter garantiu "não ter nada a esconder". Derrotado quatro anos antes, Lennart Johansson apoiou o camaronês Issa Hayatou, assim como o secretário-geral Michel Zen-Ruffinen, também suíço, rachado com o compatriota e que seria demitido logo depois. Ainda assim, deu Blatter nas urnas: 139 a 56. 

2002 - CASO ISL   

Em 2002, Joseph Blatter teve seu nome envolvido também no escândalo que resultou na falência da ISL, empresa de marketing parceira da Fifa. De acordo com dossiê feito pelo ex-secretário-geral da entidade, Michel Zen-Ruffinen, o colapso gerou prejuízo de até US$ 100 milhões. As autoridades suíças, por sua vez, inocentaram Blatter no caso, e a Fifa teve que pagar os custos do processo. O presidente ainda questionou o vazamento de informações confidenciais e demitiu Zen-Ruffinen do cargo pouco antes do Mundial da Coreia e do Japão. Acusações dão conta de corrupção na relação Fifa/ISL por contratos lucrativos a respeito dos direitos de transmissão de Copas do Mundo. A empresa faliu em 2001.  

2007 - CANDIDATO ÚNICO   

Blatter é reeleito por aclamação em pleito no qual foi candidato único ao posto máximo da Fifa. Em congresso realizado em Zurique, e que ficou marcado pela entrada de Montenegro na entidade, aumentando para 207 o número de associações filiadas, o presidente deu início ao seu terceiro mandato. Com a missão de tornar o futebol cada vez mais global cumprida, após ser um dos principais incentivadores das Copas na Ásia, em 2002, e na África, em 2010, o dirigente tinha situação confortável em sua cadeira.   

2011 - REELEIÇÃO EM MEIO À POLÊMICA  

Blatter é novamente reeleito após a desistência de seu ex-parceiro, Mohammed Bin Hammam, do Qatar, momentos antes da eleição. O catari tinha, inclusive, apoiado sua candidatura nos pleitos de 1998 e 2002. A esta altura, o Comitê de Ética da Fifa já investigava a possibilidade de suborno envolvendo votação para sedes de Copas do Mundo e tinha como alvos o próprio Bin Hammam e o então vice-presidente da Fifa e presidente da Concacaf, Jack Warner. A dupla acabou banida do futebol em episódio que deu início a todo escândalo deflagrado na última semana. 

Eleição de 2011 expôs racha com ex-vice Jack Warner. Caso deu início ao escândalo na Fifa (Foto: Reuters)

2015 - ESCÂNDALO, REELEIÇÃO E ADEUS  

A história da maior entidade do futebol começou a mudar na manhã de quarta-feira, 27 de maio, na Suíça. Uma eleição que era dada como favas contadas para o quinto mandato de Sepp Blatter teve o rumo alterado a partir da prisão de sete dirigentes da Fifa, entre eles ex-presidente da CBF, José Maria Martin, a pedido da justiça americana, por uma série de acusações de corrupção. Outros dez dirigentes são investigados pelas escolhas das sedes das Copas de 2018 e 2022. Mesmo com a bola de neve de suspeitas aumentando em alta escala, Blatter superou o príncipe da Jordânia, Ali bin al-Husein, no pleito da última sexta-feira.   

Blatter deixa auditório da Fifa após entregar o cargo, em coletiva neste sexta 
(Foto: VALERIANO DI DOMENICO / AFP)

Acusações envolvendo até mesmo seu braço direito, Jérôme Valcke, secretário-geral, no entanto, apertaram o cerco e fizeram com que o suíço optasse por entregar o cargo, nesta terça-feira. Novas eleições serão convocadas e Blatter ainda segue no cargo por prazo indeterminado, mas não há dúvidas de que o dia 2 de junho de 2015 será emblemático. Depois de 6.203 dias, e Era Blatter chegou ao fim.



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