Foto: Fabrice Coffrini / AFP |
31/05/2015
Multinacionais ameaçam romper seus contratos, caso a entidade se recuse a banir todos os envolvidos com corrupção
Várias empresas multinacionais, entre elas Nike, Coca-Cola, Adidas, McDonald's e Visa, que patrocinam a Copa do Mundo de futebol, pressionam a Fifa a fazer uma limpeza após o indiciamento de vários dirigentes por corrupção.
A bandeira de cartão de crédito Visa ameaçou romper seus contratos com o órgão máximo do futebol mundial. Se não houver mudanças, "informamos (a Fifa) que reavaliaremos nosso patrocínio", ressaltou Visa em um comunicado, no qual cita a sua "profunda decepção e preocupação".
"Como patrocinador, esperamos que a Fifa adote medidas rápidas e imediatas para resolver esses problemas", acrescentou a empresa, explicando que seu patrocínio se destinava a "encorajar as comunidades a se unirem e celebrar o espírito de competição e êxito pessoal."
"Esta longa polêmica deturpa a missão e os ideais da Fifa, e já expressamos repetidamente nossas preocupações sobre estas graves acusações", declarou por sua vez a Coca-Cola, que paga cerca de 30 milhões de dólares por ano ao organismo. Em um e-mail à AFP, a companhia exige que a organização trate a questão da corrupção.
O gigante do fast food McDonald's, que ressaltou que leva "muito a sério" os problemas relacionados à ética e à corrupção, considerou "muito preocupantes" as revelações da justiça americana.
O mesmo expressou a gigante belgo-brasileira da cerveja AB Inbev (Anheuser-Busch), outro importante patrocinador através de sua marca Budweiser, que indicou esperar que "todos os seus parceiros mantenham elevadas exigências em matéria de ética e operem de forma transparente".
Nenhum patrocinador oficial foi envolvido no escândalo, mas todos estão preocupados com o perigo de o escândalo afetar sua própria reputação e as vendas de seus produtos.
As empresas estão particularmente preocupados com as acusações relativas à escolha das sedes das Copas do Mundo de 2018, na Rússia, e 2022, no Qatar.
Cinco dos maiores patrocinadores --Coca-Cola, Hyundai, Adidas, Sony e Visa-- pediram uma investigação completa de todo o processo de atribuição da edição de 2022 da Copa.
Desde a semana passada, Coca-Cola e Visa vêm expressando preocupações sobre o tratamento de centenas de milhares de trabalhadores estrangeiros na construção dos estádios para o torneio, depois de organizações de direitos humanos e jornalistas relatarem condições de trabalho desumanas.
- "Nike coopera" -
A fabricante de vestuário e acessórios esportivos Adidas informou, por sua vez, que vai continuar a apoiar o futebol, lembrando que defende uma cultura que "promove elevados padrões de ética" e que espera o mesmo de seus parceiros.
Seu concorrente, Nike, anunciou que coopera com as autoridades nos Estados Unidos que, sem citar a companhia diretamente, identifica a empresa com precisão.
Segundo o Departamento de Justiça americano (DoJ), subornos e corrupção marcaram "a eleição presidencial da FIFA em 2011 e (...) acordos sobre o patrocínio da seleção brasileira de futebol por uma grande companhia americana de produtos esportivos".
De acordo com documentos judiciais, a empresa americana em questão também assinou em 1996 um contrato de exclusividade para equipar e vestir o time brasileiro. Esse acordo por dez anos foi avaliado em US$ 160 milhões.
Em paralelo, a mesma empresa teria depositado 40 milhões de dólares em uma conta bancária na Suíça pertencente a um diretor de uma empresa que compra e vende direitos de comercialização no Brasil. Uma parte desse dinheiro teria sido entregue a um diretor da Fifa e a um dos líderes do futebol brasileiro. O patrocinador oficial da seleção brasileira é a Nike.
- Pressão política e comercial -
A gigante do gás russo Gazprom se limitou a afirmar que não havia nenhuma acusação "específica" contra ela. A Rússia sediará a próxima Copa do Mundo em 2018.
"Todas essas empresas reagem como se fossem parte da solução. Vão tomar a iniciativa de reivindicar uma limpeza ou ameaçar suspender seu apoio", diz David Carter, da Marshall Sports Business Institute da Universidade da Carolina do Sul.
"Os patrocinadores podem exercer pressão política e comercial. Eles têm influência e podem usá-la se acreditarem que este escândalo de corrupção é potencialmente negativo a longo prazo", destaca.
Andrew Zimbali, do Smith College (Massachusetts, nordeste), estima que "este foi um bom dia para a Fifa, já que é o início de uma grande limpeza de uma organização corrupta que estava se auto-destruindo".
Fonte: O Tempo
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