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Chile faz últimos preparativos para receber a Copa América

Estádio Nacional receberá abertura e final da Copa América
Foto: André Baibich / Agência RBS
19/05/2015

O Chile começa a fervilhar de ansiedade pelo início da Copa América. No dia 11 de junho, os donos da casa enfrentam o Equador, dando pontapé inicial ao torneio.

Lá, a televisão já mostra comerciais com o tema do torneio. Há esperança da consagração de uma geração talentosa, com expoentes como Alexis Sanchez, do Barcelona, e Arturo Vidal, da Juventus.

A derrota para o Brasil na Copa ainda dói nos chilenos. O chute no travessão de Pinilla, em meio à prorrogação da partidas pelas oitavas de final, é assunto recorrente. A competição em casa é vista como uma oportunidade de redenção, mesmo que existam vozes dissonantes.

— Não gosto deste Sampaoli. É uma cópia mal-feita do Marcelo Bielsa. Só pensa em ganhar a Copa América e não está renovando o time para o Mundial de 2018 — reclama o espirituoso motorista Cristian Fernández.

Enquanto acerta os detalhes dentro das quatro linhas, o Chile prepara seus estádios e cidades para receber a América. A reportagem de ZH esteve em três sedes da competição e relata, a seguir, como estão os palcos do torneio.

No simpático Germán Becker, a estreia brasileira

Funcionários tomam cuidado especial com o gramado. Foto: André Baibich

Nos últimos meses, basta um cidadão de Temuco encontrar um brasileiro para citar a expectativa para o dia 14 de junho. A cidade de pouco mais de 260 mil habitantes vibra com a perspectiva de receber a Seleção de Dunga para sua estreia na Copa América, diante do Peru.

O simpático palco da partida está quase pronto. São 18,5 mil lugares em assentos confortáveis. Como já passara por uma profunda renovação em 2008, para o Mundial feminino sub-20, o Germán Becker precisa de pequenos ajustes. O gramado, que foi totalmente renovado, recebe cuidados especiais.

Ao entrar no campo, o prefeito Miguel Becker, filho do ex-prefeito que deu nome ao estádio, pergunta a um funcionário:

_ Quantos cortes já fizemos no gramado?

O responsável não sabe precisar, mas isso não impede Becker de mostrar com orgulho o tapete verde e querer saber dos jornalistas o que acham. Os contrastes do verde claro e escuro que formam tênues linhas na grama já estão lá. O piso está pronto para receber Neymar e companhia.

Enquanto isso, a cidade vibra e se prepara. No hotel que hospedará a Seleção, já foi dada a ordem para que o cassino e a discoteca, que ficam dentro do local, sejam fechados para evitar distrações dos jogadores.

A jogatina é das poucas atrações de Temuco, que se orgulha de seus filhos ilustres: o ex-centroavante Marcelo Salas, hoje dono da equipe local, o Deportes Temuco, e o poeta Pablo Neruda. De resto, não há grande apelo turístico.

Ainda assim, receber visitantes não é tarefa estranha para os habitantes. Cerca de 100 mil por ano passam pela cidade a caminho das estações de esqui.

— Durante a Copa América, pedimos autorização para que o aeroporto, que não é internacional, possa receber voos do Exterior. Assim, teremos condições de recepcionar o torcedor brasileiro que queira vir direto para o jogo — revela Becker.

Concepción corre contra o tempo

Estádio Ester Roa pode receber o Brasil nas quartas de final. Foto: André Baibich

A visão do entorno do estádio Ester Roa, em Concepción, lembra a Avenida Padre Cacique em meados de 2013, quando as obras do Beira-Rio estavam a todo vapor. Cones delimitam a área estreita para os carros passarem em baixa velocidade, brecados pelo congestionamento. O resto da via é ocupada pelos operários. Até não seria preocupante se a cena não se repetisse dentro de um dos palcos da Copa América.

A reforma do estádio municipal demorou a sair. O contrato com uma construtora para tocar a renovação foi rompido pela prefeitura no ano passado, após meses de marasmo. Concepción, a segunda maior região metropolitana do Chile, estava ameaçada de não fazer parte da festa.

Ainda que a nova parceria tenha acelerado o ritmo e garantido a realização de três partidas da Copa América no local, a apreensão está no ar. Quando a reportagem de ZH esteve no estádio, há cerca de duas semanas, guindastes em volta do campo poluíam a vista de uma construção moderna, que começa a tomar forma a despeito do atraso. Ainda há cadeiras a instalar, a cobertura (semelhante à do Beira-Rio, com módulos cobertos por uma membrana de tecido) está sendo colocada e falta o sistema de som, vestiários e áreas VIP. O custo total se aproxima de R$ 150 milhões.

— Tudo vai ficar pronto. As obras estão dentro do cronograma — garante o prefeito Álvaro Ortiz, que não esconde que algumas das etapas da reforma ficarão para depois da Copa América e só serão vistas no Mundial sub-17 de outubro.

Os problemas fizeram com que os três jogos marcados para a cidade fossem da segunda fase: era preciso dar tempo para que tudo ficasse pronto. Se o Brasil passar em primeiro lugar do grupo, joga as quartas de final em Concepción, e se tudo correr como na maior parte dos bolões de torcedores, um trepidante Brasil x Argentina na semifinal movimentará a capital da província de Bio Bio.

Enquanto espera pela Copa América, Concepción segue a vida de cidade universitária, com suas ruas limpas e floridas. O baque do terremoto de 2010, que deixou um rastro de destruição, já está quase superado. Os esforços para reconstruir as áreas mais devastadas, como o porto de Talcahuano, na região metropolitana, amenizaram o drama e mantiveram o clima agradável e cortês que se percebe do centro à periferia.

A história no cimento do Nacional

Setor que homenageia prisioneiros políticos no Nacional. Foto: André Baibich

Nada das estruturas de ferro e do acrílico transparente das novas arenas. No Estádio Nacional, o cimento está à vista.

Quem acredita em forças sobrenaturais deve ter alguma dificuldade em caminhar à noite pelos corredores do principal palco da Copa América. Com toda a história que passou por ali, do futebol à política, não surpreenderia se algum fantasma aparecesse vagando pelas velhas arquibancadas.

Construído em 1938, o Nacional viveu seu auge na Copa do Mundo de 1962, quando foi testemunha da genialidade de Garrincha. O Mané entortou os donos da casa e marcou duas vezes na semifinal, antes de perder a cabeça e chutar Rojas, em lance que resultou na sua expulsão. Na decisão, jogou doente, com febre, mas ajudou o Brasil a vencer a Tchecoslováquia e conquistar o bicampeonato.

Em 1973, o capítulo mais triste da história do estádio: dois meses de terror patrocinados pela ditadura militar de Pinochet. O Nacional transformou-se em depósito de prisioneiros políticos. Estimativas extraoficiais apontam cerca de 200 mortos em execuções dentro do estádio.

O Chile não esconde essa história: ao contrário, escancara. Um dos setores da arquibancada foi preservado como era nos tempos da ditadura, com seus degraus de madeira, em memória aos prisioneiros. Ali, ninguém entra. Do lado de fora, nos vestiários da piscina que faz parte do complexo esportivo, outra homenagem. O local era utilizado como prisão das mulheres e também teve suas estruturas mantidas. Uma placa lembra o sofrimento das prisioneiras e a camaradagem para preservar as grávidas, já que, afinal, "depois do terror, a vida continua".

O passado sombrio não paralisou o Nacional, que segue ativo, servindo de casa da Universidad de Chile. Para a Copa América, receberá pequenos ajustes para sediar as principais partidas: a abertura e a final.

Os encantos de "Sanhattan"

Vinícola fica a uma hora de carro de Santiago. Foto: André Baibich

Além do Nacional, Santiago terá jogos no Monumental, casa do Colo-Colo. Lá, o Brasil cumpre os dois últimos compromissos da primeira fase.

Passar o tempo entre um jogo e outro não será problema para quem for apoiar a Seleção. Não faltam atrações à capital chilena, com seus pouco mais de 5 milhões de habitantes.

A mistura do antigo e o novo produz lindas paisagens. Os prédios modernos e espelhados remetem às metrópoles norte-americanas e justificam o apelido de "Sanhattan". No centro, construções históricas como o Palácio La Moneda, sede do governo, dão o tempero europeu à arquitetura.

Fora da cidade também há o que fazer. Basta uma viagem de uma hora de carro para chegar à sede da vinícola Concha y Toro, uma das maiores do mundo, para um tour guiado que inclui uma visita às plantações de uva e degustação de alguns dos melhores rótulos da marca.

Fonte: ZH Esportes

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