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Fundação Iberê Camargo abre duas exposições nesta quinta-feira (29)

Exposição Ensaio Sobre a Dádiva (Foto Fabio Del Re)

28/05/2014

Em “Ensaio Sobre a Dádiva”, que será inaugurada no dia 29 de maio, o artista Nuno Ramos explora as trocas ancestrais de objetos entre as pessoas como foco criativo, com obras criadas especialmente para a Fundação Iberê Camargo. A mostra coletiva “Liberdade em Movimento”, que abre no mesmo dia, apresenta 27 obras de 20 artistas que usam seus deslocamentos urbanos como estratégia artística. Os trabalhos poderão ser visitados de 30 de maio até 10 de agosto.

Duas exposições distintas – mas, de certa forma, complementares – serão inauguradas no dia 29 de maio na Fundação Iberê Camargo. No quarto andar do prédio, o escultor, pintor, ensaísta e videomaker Nuno Ramos mostra sua ousadia criativa em “Ensaio sobre a Dádiva”. Já a exposição coletiva “Liberdade em Movimento” reúne trabalhos de 20 artistas contemporâneos que utilizam o deslocamento urbano – especialmente a caminhada – como estratégia criativa.

Um dos mais importantes artistas contemporâneos do país, o paulista Nuno Ramos apresenta nessa exposição três instalações produzidas sob medida para o espaço, com dois filmes e 27 gravuras criadas no Ateliê de Gravura da Fundação Iberê Camargo sob técnica mista (monotipia). O curador Alberto Tassinari, filósofo e crítico de arte, explica o ponto de partida da concepção artística de “Ensaio Sobre a Dádiva”: “Quando chefes de Estado trocam presentes, cumprem um rito anterior às nossas formações econômicas capitalistas. Antes que negociem o que quer que seja, afirmam, pela dádiva, uma intenção de amizade recíproca”. A mostra é inspirada em estudos etnográficos e cita um ensaio de Marcel Mauss (Ensaio sobre o dom) publicado em 1925 – tido como a obra-prima do antropólogo e capaz de inaugurar uma nova era nas ciências sociais. No ensaio, Mauss demonstrou a multiplicidade de aspectos – políticos, sociais, econômicos, religiosos – que estão intimamente ligados aos sistemas de dádivas, considerado por ele como trocas materiais sob o signo da espontaneidade. A ideia chave de Mauss é de que a circulação de “dons e contradons” corresponde a um “fato social total”, englobando diversos domínios da vida coletiva.

As três instalações planejadas por Nuno mostram trocas inusitadas que, segundo o artista, pretendem ressignificar a dimensão dessa prática primitiva da humanidade. “Meu objetivo é desenvolver um conceito crítico sobre as trocas, mostrar que nem sempre derivaram do lucro. Não é necessariamente anticapitalista, mas tem uma energia desse tipo”, conta. Segundo o curador Tassinari, Nuno Ramos montou circularidades semelhantes às das cerimônias em que as dádivas ocorrem em sociedades onde a troca é simbólica em seus aspectos múltiplos. E completa: “andar pelas salas é reproduzir um pouco dessa circularidade entremeada de símbolos”.

Obra Copod'águaporvioloncelo (Foto Fabio Del Re)

As duas “trocas” montadas por Nuno interagem com o espaço vazio do prédio criado por Álvaro Siza e se “projetam” no vão aberto para transmitir uma sensação de equilíbrio. Em Copod’águaporvioloncelo, um violoncelo é trocado por um copo de água; Em Cavaloporpierrô, um pierrô é trocado por um cavalo. Ambas as instalações são sintetizadas num terceiro espaço, onde há réplicas esculpidas em alumínio e latão e amarradas por uma mangueira translúcida onde vão circular dois líquidos diferentes, representando o sono e a vigília. “Aí também temos uma troca, já que um significa energia e o outro remete a sono, descanso”, completa Nuno Ramos. Em cada instalação, um vídeo sustenta a proposta estética onde aparecem referências a barcos, montanhas russas e carrosséis. Dádiva 1: Copo d’Água por Violoncelo usa a metáfora da purificadora água marinha em cenas gravadas às margens do Guaíba e da Lagoa dos Patos. Em Dádiva 2: Cavalo por Pierrô, o tradicional personagem da Commedia dell’Arte é sequestrado em Porto Alegre por motoqueiros, que devolvem um cavalo em seu lugar.

A gravação das Dádivas – dois curtas de aproximadamente 10 minutos cada um – ocorreu entre os dias 15 e 20 de abril em Porto Alegre. Os roteiros, criados pelo próprio artista, foram dirigidos por ele e por seu parceiro Eduardo Climachauska, que também atuou como o protagonista de Dádiva 2.

Nuno relata que a experiência de criar a mostra foi especial. “É bem diferente de outras coisas que já fiz. Usei materiais novos, coisas que nunca pensei em utilizar no meu trabalho”, diz.

Nuno Ramos é conhecido por criar projetos complexos em suas obras. Em 2010, fabricou sabão no Museu de Arte Moderna (MAM) do Rio de Janeiro para cobrir dois aviões monomotores que levou para dentro da instituição. Em 2012, instalou um globo da morte em tamanho real na galeria carioca Anita Schwartz, para onde, três anos antes, transportara uma canoa e um barco de pesca que seriam também cobertos de sabão. Também enterrou três réplicas das casas onde passou a infância dentro da galeria Celma Albuquerque, em Belo Horizonte.

Liberdade em Movimento reúne 20 artistas de diferentes países

A mostra “Liberdade em Movimento” enfatiza o caráter político, no sentido mais amplo do termo, da grande maioria das obras reunidas pelo curador Jacopo Visconti – fotos, vídeos, desenhos, instalações e objetos. Todas usam o movimento, mas principalmente o ato de andar, como estratégia criativa. Segundo Visconti, arquiteto, crítico de arte e curador independente, a exposição inclui desde registros de ações abertamente militantes até obras que buscam desmaterializar a arte, por ser explícito nelas o desejo de eludir o domínio da lógica de mercado na produção contemporânea. “Em outras palavras, a exposição aponta para a riqueza de significados que o movimento, no cruzamento altamente simbólico de todas as suas acepções, pode adquirir em âmbito artístico”, destaca o curador.

Inserções em Circuitos Ideológicos, 1970, Cildo Meireles (Foto Edouard Fraipont)

O Brasil estará presente na mostra com obras de Arthur Barrio (“4 Dias 4 Noites – Livro II”, 1970), Cildo Meireles (“Inserções em Circuitos Ideológicos”, 1970), André Severo (“Migração”, 2002, 2003) e Clarissa Tossin (“Brasília a Pé”, 2009). Destacam-se também o inglês Richard Long e o russo Andre Monastyrski. Long, é um dos expoentes da land art, que valoriza o processo de transformação da natureza pelo homem. O artista costuma produzir fotografias durante suas célebres caminhadas, base da estrutura de seu trabalho: ao longo dos passeios, Long move ou reorganiza conjuntos de elementos naturais e os fotografa em ordens geométrica ou linear. Paralelamente, recolhe peças do ambiente para produzir esculturas no ambiente expositivo. Na Fundação Iberê Camargo, Long será representado por “England” (1968), do acervo da Lisson Galery.

Monastyrski, um dos pilares da Escola Conceitualista de Moscou, tem seu trabalho ancorado nos “action objects” desenvolvidos pelo Collective Action Group. Criado a partir do final dos anos de 1970, o grupo que reúne vários artistas já realizou mais de 120 performances fotográficas, principalmente nos arredores da capital russa. Monastyrski e suas ações coletivas serão representados por seis obras: “The Appearance” (1976), “Time of Action” (1978), “Gazing of the Waterfall” (1981), “Ten Appearances” (1981), “Description of an Action” (1984), “People strolling in the Distance are the Extra Element of the Action” (1989).

Adotado esporadicamente desde a década de 1920 como técnica artística, o caminhar se consolida e se difunde como tal a partir do final dos anos de 1960, aproximadamente no mesmo período em que a Internacional Situacionista e seu mâitre a penser Guy Debord, autor do clássico Teoria da deriva, abandonam a atividade artística em favor de um engajamento político explícito e militante, motivado pelos acontecimentos de 1968. Visconti explica: “Próximas das derivas situacionistas, as ações dos artistas que, ao redor do mundo, se lançam a andar sem muito mais do que uma câmera na mão e uma ideia na cabeça buscavam consolidar a ideia de uma arte não comercializável, que pudesse minar as bases da sociedade capitalista recusando a obrigação de produzir obras tangíveis e vendáveis”. Em alguns casos, segundo o curador, essas ações se opunham diretamente ao clima político em que foram concebidas, mas rapidamente o campo expandido do movimento firmou-se em contextos menos conflituosos, resistindo como técnica artística até os dias de hoje, apesar das mudanças do clima político.

Lista completa dos artistas: Lygia Clark, Arthur Barrio, Dennis Oppenheim, Cildo Meireles, Richard Long, Stanley Brouwn, Christian Marclay, André Severo, Emily Jacir, Multiplicity, Allora e Calzadilla (2 artistas) ,Meriç Algün Ringborg, Francis Alÿs, Runo Lagomarsino, Ariel Orozco, Mario Garcia Torres, Clarissa Tossin, Francesco Arena, Andrei Monastyrski.

SERVIÇO

O QUE | Exposições Ensaio Sobre a Dádiva e Liberdade em Movimento
ABERTURA | 29 de maio, das 19h às 21h
VISITAÇÃO | 30 de março a 10 de agosto de 2014
ONDE | Fundação Iberê Camargo, Av. Padre Cacique, 2000, Porto Alegre – RS
HORARIO DE FUNCIONAMENTO | De terça a domingo (inclusive feriados), das 12h às 19h, (último acesso 18h30) quintas até as 21h (último acesso 20h30)
ENTRADA FRANCA | As empresas Gerdau, IBM, Itaú, Vonpar  e Banco Votorantim garantem a gratuidade do ingresso


TRANSPORTE | As linhas regulares de ônibus e lotação que vão até a Zona Sul de Porto Alegre param em frente ao prédio. É possível tomá-las a partir do centro da cidade ou em frente ao shopping Praia de Belas. O retorno pode ser feito a partir do BarraShoppingSul, por onde passam diversas linhas de ônibus com destino a outros pontos da cidade.

Fonte: Assessoria de Comunicação

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