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Copa 2014: Colombianos formam filas para completar álbuns de figurinhas

Pessoas se reúnem em espaços públicos para realizar as trocas
Foto: Paul Smith / NYTNS

31/05/2014 

Classificação da Colômbia para a Copa depois de 16 anos fortalece a mania no país

Dezenas de trocas são realizadas em locais de encontros bem conhecidos da cidade de Bogotá, na Colômbia: a esquina da Rua 112 com a 14; a praça em Pablo VI; a esquina da Rua 97 com a 11. As transações ocorrem na frente das faculdades, dos escritórios, e dos supermercados e os envolvidos são jovens, velhos, homens e mulheres, todos em busca de figurinhas. Isso mesmo, de figurinhas.

Com a primeira entrada da Colômbia na Copa do Mundo em 16 anos, a febre do álbum de figurinhas da Copa atingiu em cheio o país, com mais de um milhão de álbuns em circulação e uma demanda crescente. Não é nada fácil, nem barato completar o álbum de 72 páginas com 639 figurinhas. Mas em todo o país, centenas de pessoas formam filas para trocar os cromos com desconhecidos. Já existem até aplicativos para celular que ajudam a encontrarem imagens que ainda faltam e álbuns piratas já foram vistos no mercado.

— Vi pessoas de absolutamente todas as idades e níveis sociais colando figurinhas no álbum —, afirmou Mariano López, de 62 anos, na fila ao lado da esposa, Estella Gómez, de 57. O casal veio do outro lado da cidade para participar. — Esse é o nosso passeio todos os fins de semana —.

O Panini Group, uma empresa familiar com sede em Modena, na Itália, que produz objetos colecionáveis e revistas em quadrinhos, é famosa pelo popular álbum da Copa, vendido no mundo todo, com cromos autocolantes dos times participantes e seus jogadores, os estádios e os diversos emblemas da FIFA. O álbum foi colocado no mercado pela primeira vez na Copa do México, em 1970, na ocasião da nona Copa do Mundo, e a primeira a ser transmitida pela TV. A primeira edição a ser oficialmente lançada na Colômbia foi durante a Copa de 1982.

Uma fábrica da Panini no Brasil fornece os pacotes de figurinhas para a maior parte da América Latina, imprimindo cerca de nove milhões de pacotes de figurinhas por dia.

Carla Ruosi, gerente de exportação do Panini Group, afirmou que o álbum sempre foi muito conhecido na região, — mas em determinados países a qualificação para o campeonato aumenta o entusiasmo —.

Este ano, a Continente S.A., a empresa responsável pela distribuição na Colômbia, autorizou mais de 25 mil pontos de venda, de lojas fixas a vendedores ambulantes.

A empresa estima que 1,4 milhão de colombianos adquiriu o álbum, que custa dois dólares.

Uma caixa com 500 figurinhas custa US$ 60, e cada envelope com cinco cromos custa o equivalente a 60 centavos de dólar na Colômbia. Nas ruas, figurinhas de jogadores populares, como Lionel Messi, Cristiano Ronaldo e Radamel Falcão chegam a custar 2,50 cada, alimentando o mito de que algumas imagens são mais difíceis de tirar que as outras – algo que a Panini nega.

Juan Novoa só precisava de mais quatro figurinhas: o meio-campo australiano Mark Bresciano, o zagueiro equatoriano Gabriel Achilier, o goleiro bósnio Asmir Begovic e o escudo da equipe argentina.

— Vai ficando cada vez mais difícil à medida que faltam menos figurinhas—, afirmou Novoa, empresário de 36 anos, enquanto caminhava rapidamente em um estacionamento que havia se convertido em um local de troca popular. Ali, ao lado de camelôs vendendo lanches e objetos ligados à Copa, centenas de pessoas se reuniam lado a lado, em pares ou pequenos grupos, fazendo as trocas.

— Existe uma espécie de protocolo—, afirmou Novoa enquanto se aproximava, organizando as figurinhas repetidas que queria trocar. — Quem precisa de menos imagens para completar o álbum pode perguntar primeiro —.

Juan Carlos Castillo, de 39 anos, ocupa sua barraca das seis da manhã às nove da noite, de domingo a domingo. Ele vende alimentos e bebidas, bandeiras da Colômbia, camisetas, bolas, mascotes, adesivos e muito mais.

— Não faz diferença se você é rico ou pobre, velho ou jovem; o álbum faz todo mundo se unir. É legal ver as pessoas se ajudando. Até agora não vi uma briga por aqui. Só sorrisos —, afirmou Castillo. 

Novoa tentou a sorte em frente à barraca de Castillo na hora do almoço, se aproximando de pessoas, incluindo um chef de cozinha, um homem de negócios, uma mãe acompanhada do filho, em busca de seus quatro últimos cromos: o 412, o 433, o 361 e o 176.

Depois de cinco minutos, Novoa trocou três figurinhas por um pacote aleatório com cinco, mas o pacote não tinha nenhuma das imagens que faltavam para ele. Na décima tentativa, Novoa encontrou o escudo argentino, pelo qual deu dois jogadores.

Os colecionadores podem comprar as figurinhas que faltam de centenas de distribuidores ao redor da cidade, mas quase todos concordam que assim não é tão legal.

— As pessoas me perguntam por que eu simplesmente não compro as figurinhas que faltam. Acho que sou romântico demais para isso. Comprar as figurinhas separadamente não é o jeito certo de fazer isso. Quero completar o álbum fazendo trocas —, comentou Novoa.

As técnicas de troca variam bastante. Alguns usam listas escritas à mão para conferir as figurinhas que faltam. Outros usam marcadores coloridos e tabelas. Existem também aqueles que preferem usar aplicativos para o celular. Sem contar o aplicativo oficial da Panini Collectors, o aplicativo iSticker Checklists, criado e desenvolvido na Guatemala, que se tornou popular na Colômbia. Dos cerca de 130 mil usuários do aplicativo, 71 mil são colombianos, de acordo com o desenvolvedor, Jose de la Roca.

Existem outras pessoas que adotam medidas mais desesperadas. Recentemente, uma van de distribuição com 300 mil figurinhas da Panini foi assaltada durante uma entrega no Rio de Janeiro. A Panini não deu mais detalhes sobre o roubo. Em abril de 2010, antes da Copa do Mundo da África do Sul, 135 mil cromos foram roubados no Brasil em uma empresa de distribuição de São Paulo, levando a três prisões.

Richi Escobar, colecionador viciado e participante de um grupo de trocas no Facebook, afirmou que já viu figurinhas falsificadas e seis álbuns piratas em circulação na Colômbia, além do álbum oficial da Panini. Escobar, de 58 anos, completou todos os álbuns da Panini desde a Copa do México, em 1970 (que agora ele vende completo por cerca de 7 mil). Ele afirmou ter mais de 4 milhões de figurinhas repetidas em casa, na cidade de Medellín.

— A Panini é a No. 1, e ninguém consegue competir —, afirmou. — Mas isso não significa que as pessoas não vão tentar ganhar dinheiro com essa mania—.

Ele afirmou que mais pacotes de figurinhas estão chegando ilegalmente de países vizinhos, como a Venezuela e o Panamá.

Carmen Alicia Contreras Nieto, distribuidora autorizada na Colômbia que trabalha na Universidade dos Andes, em Bogotá, disse que a oferta não está acompanhando a procura este ano.

Ela é parte de uma complexa rede de vendas. Existem grandes distribuidores que investem centenas de milhares de dólares e fazem vendas no atacado, e há os vendedores de rua, que vendem os pacotes ou as figurinhas avulsas. Quanto maior é a quantidade vendida, maior é a parcela do distribuidor na venda.

— No primeiro mês, vendemos a mesma quantidade que vendemos há quatro anos durante toda a estação. Por isso, ficamos esperando ansiosamente pela chegada de mais produtos — , afirmou Contreras.

Ela afirmou que os álbuns e as figurinhas ainda não chegaram às cidades pequenas da Colômbia, que poderiam alimentar ainda mais a demanda.

— A gente ganha muito dinheiro com isso, mas ainda não faturamos tudo o que esperávamos —, afirmou. — As pessoas nos ligam e precisamos dizer que ainda não temos, ainda não temos, ainda não temos... e quando os produtos chegam acaba tudo na hora —.

Nas ruas de Bogotá, os colecionadores não pareciam se preocupar com a falta de figurinhas na distribuidora. Eles estão muito mais preocupados em completar o álbum antes que a Copa comece no dia 12 de junho.

— Eu poderei tirar sarro dos meus amigos e vou ficar muito orgulhoso. Além de ser uma ótima lembrança da Copa do Mundo —, afirmou Novoa.

No meio da tarde, Novoa só precisava de mais um cromo: Bresciano, o meio-campo australiano. A praça já estava quase vazia, porque os colecionadores estavam de volta ao trabalho, mas Novoa ficou. Ele tentou a sorte com um homem que acabava de chegar.

—Talvez você tenha a última figurinha que está faltando para mim: A 176 — , afirmou Novoa.

O homem fuçou seu bolo do repetidas e tirou a que Novoa precisava.

Com um sorriso, Novoa aceitou e ofereceu 10 figurinhas em troca, — como forma de agradecer por você ter me ajudado a completar o álbum —, comentou.

Os dois tiraram uma foto juntos.

Enquanto ia embora, sorrindo, Novoa disse que estava orgulhoso por ter completado o álbum "do jeito certo".

— Completar é uma alegria meio dolorida —, arrematou.

Fonte: ZH


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